(Do nada, uma voz grave surge do céu)
— Ei, Roberto!
— Ops, quem falou comigo?
— Aqui em cima. Sou Eu!
— Ah!
— Então, é o seguinte. Você é um cara bacana, se comportou direitinho na viagem. Vou te fazer uma preza!
— Opa, não precisa, senhor Deus! Eu já me diverti bastante, a viagem tá no fim e…
— Fica quieto, não reclama! Vou te dar um presente, não é sempre que eu faço essas coisas. O que você quer?
— Tipo, qualquer coisa?
— Qualquer coisa!
— Ganhar na loteria?
— Tá, qualquer coisa MENOS ganhar na loteria! Essa não rola, é muita gente pedindo. E, convenhamos, que falta de criatividade!
— Hmmm, então deixa pensar. Sei lá, um show do Iron Maiden!!! Rola?
— Um show do Iron Maiden… É um pedido estranho. Mas tudo bem! Posso providenciar.
— Sério??
— Sério! Não confia em Mim? Terça-feira tá bom?
— Tá! Mas é meio em cima, não? E o ingresso?
— Pô, aí também não dá. Te vira aí! Que eu tenho mais o que fazer agora!
— Beleza! Valeu!!!
— Tchauzinho.
Eu tenho quase certeza que o diálogo acima deve ter rolado de verdade. Era domingo e eu, ainda chateado por ter perdido um show do Amorphis no dia anterior, navegava na Web sem rumo certo. Pulando de link em link, descobri que o Iron Maiden estava fazendo uma turnê na Europa. E, só de curioso, resolvi fuçar as datas. E não é que eles tinham um show marcado pra terça em Munique?? É muito rabo!!
Abre parêntese. Fato um: o Iron Maiden é a maior, melhor e mais seminal banda de heavy metal da história. Fato dois: é a banda que eu mais amo. Se não fosse o Kiss, eu não tinha começado a escutar metal, mas se não fosse o Iron eu não tinha continuado até hoje. Fecha parêntese.
Fui olhar os ingressos e, obviamente, o show estava "sold out" (essas palavrinhas me perseguem). Nem no eBay eu achei. Tive que apelar pra última instância, um site de "fan trade" (uma espécie de cambista virtual legalizado) que meu brother e conoisseur geral das mutretas cibernéticas So havia me indicado. Lá encontrei o ingresso e, após pensar longamente por dois segundos resolvi comprá-lo, mesmo com dois pés atrás sobre se conseguiriam entregar a tempo. Dei o endereço da escola de alemão na expectativa que receberia o dito cujo no mesmo dia do show. Dito e feito: qual não foi minha euforia hoje, após o almoço, ao me deparar com um envelopinho da DHL em cima da minha mesa. Yuuuuuupppppiiii! Parecia uma criança: mal consegui prestar atenção na aula! Findo o dia mais longo do curso, zarpei para a estação de trem e fui pra Munique. Lá tomei o metrô até o Olympiahalle, ginásio que faz parte do complexo esportivo das Olimpíadas de 1972 (de triste memória), onde rolaria o show.
Abre mais um parêntese. Vamos agora aos mitos e verdades. "Mas você já não foi a uns duzentos shows do Iron Maiden?" Mito. Só fui a cinco! :) "Mas os shows deles não são todos iguais?" Meia-verdade: tem umas seis músicas que nunca saem do repertório, mas o resto sempre muda, e eu gostei bastante do disco novo. "Mas a Eddie não é uma coisa meio ridícula?" Verdade! Fecha parêntese.
Às oito começou a banda de abertura. O Iron sempre gosta de dar um ponto pras bandas novas inglesas (como o horrível Thunder em 1993), e dessa vez não foi diferente. Era um tal de Rise to Remain, mas a banda mandou muito bem, apesar de uma certa "síndrome Soilwork": estrofe sempre no cacete (ou "pula-pula") e refrão sempre hipermelódico. O vocalista é muito, muito bom (timbre e técnica), porém as músicas são meio parecidas e, por isso, nada me saltou aos ouvidos - pelo menos de primeira.
Às nove em ponto rola "Doctor Doctor", do UFO, nos falantes (a costumeira "deixa" para o Iron entrar) e, em seguida, a introdução gigantesca do disco novo. As primeiras são "The Final Frontier" e "El Dorado", emendadas no primeiro clássico da noite: "Two Minutes to Midnight". A partir daí a platéia, de umas cinco mil pessoas (aliás, que legal ver o Iron em um lugar menor do que estamos acostumados no Brasil!), estava completamente conquistada, e a banda alternou sons novos e antigos - como manda o figurino. Me desculpem, mas não tem como não se emocionar com "The Trooper", "The Evil That Men Do" ou mesmo "Blood Brothers" - mesmo que você as tenha escutado um milhão de vezes na sua vida. Porque o Iron, além de tudo aquilo que eu disse lá em cima, ainda é, provavelmente, a melhor banda ao vivo que existe. Os caras têm talento, estrada, e o principal: muito tesão pelo que fazem. Isso tudo aos cinquentinha! E como canta o Bruce, meu amigo!
O som estava perfeito e eu peguei um lugar sensacional - acho que nunca tinha conseguido ver e escutar tão bem um show do Iron. Depois de duas horas, zilhões de fotos tiradas, duas Eddies gigantes e um final de cortar os pulsos com "The Number of The Beast", "Hallowed Be Thy Name" e "Running Free", restava sair correndo (sem trocadilho) pra pegar o último trem da noite em direção a Prien - não sem um sorriso idiota estampado na cara.
E claro que fiquei camarada do alemão ao meu lado no ginásio. Impressionante como nesses shows de metal você se sente íntimo de todo mundo que tá ali, mesmo sem ter, a princípio, qualquer outra afinidade ou proximidade - ainda mais num país diferente. Mas enfim, é como dizia a camiseta de um cara que estava na minha frente: "You'll Never Bang Alone"…
PS - Esse post é dedicado ao Anderson e à Roberta, que sempre disseram que os fãs de Iron Maiden são os mais chatos do mundo. Depois de ter escrito (e lido) tudo isso, não consigo discordar! :p
Tem chatos e "chatos" e vc está nessa 2a. categoria composta pelos que amam de verdade a música do IM e não apenas porque é chic falar que gostam.
ResponderExcluirAbç.
Meu filho, ganhei o dia! :) Mas tem uns q sao bem chatos mesmo, heheh! Abracao!
ResponderExcluirPS - Santos é Brasil na Libertadores! Heheheh
Vai ser rabudo assim lá em Prien, pô! Hehehe... Animal!
ResponderExcluirRabudo memo!! Tá loco! Abs
ResponderExcluir5 mil pessoas? Quase um pocket show pra uma banda do porte do Iron Maiden... E o melhor dos shows na Europa é que sempre tem transporte fácil, em Paris fui a um show do Depeche Mode no estádio de Bercy, coberto e protegido da neve de janeiro, e o metrô tava a 100 metros!
ResponderExcluirEntão, eu digo cinco mil "no olho" (posso estar errado). O lugar tava lotado, mas trata-se de um ginásio... E é esse mesmo o lugar para shows de bandas de grande porte em Munique. No Brasil (principalmente SP) tudo é meio astronômico mesmo... rs. Abs!
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