terça-feira, 10 de maio de 2011

London Calling

Preciso fazer uma declaração de amor, e não é pra Gi desta vez. Eu amo Londres. Eu a tinha colocado propositadamente logo em seguida à minha "overdose de Rússia" para o caso de precisar de um tratamento intensivo de civilização. E, como disse meu amigo Samé, para me lembrar que ainda sou capaz de estabelecer comunicação verbal em uma língua inteligível. Mas foi só chegar na cidade pra cair a ficha que, o que eu queria mesmo - mas não tinha me dado conta ainda, pelo menos de forma consciente - era ter essa sensação de "feels like home" (com o perdão da redundância), depois de tanto tempo fora. Por alguma razão que desconheço, me sinto muito confortável e à vontade aqui, a ponto de me pegar sorrindo que nem besta, sem nenhum motivo aparente, ao andar pela cidade.


Eu adoro o sotaque britânico. Eu adoro escutar "miiiiind the gap" no metrô. Eu adoro ver na rua todos os ícones mais manjados: os ônibus de dois andares (que o Jânio tentou copiar em SP), os táxis pretos (que hoje em dia não são mais só pretos), as cabines telefônicas (que resistem bravamente nesta época de celulares onipresentes), os guardinhas da realeza (que, sempre tenho a impressão, estão se segurando pra não dar risada). Eu adoro o clima de diversidade cool que é tão próprio da cidade. Mesmo assim, não me arrependo um centímetro de ter trocado minha semana aqui por uma ilha perdida no Círculo Polar Ártico. Mas que dá vontade de morar por estes lados algum dia, ah isso dá.

* * *

Pra não perder o costume, eis o pente fino geral no país dos cossacos:

 - A Rússia e o Brasil têm mais coisas em comum do que a gente imagina. Além da corrupção no governo (ah vá!), existe toda uma cultura de "novo-riquismo" que nós paulistanos conhecemos muito bem. É um tal de exclusividade, ostentação e mau gosto que chega a ser constrangedor. Principalmente em Moscou, onde as baladas usam e abusam do "face control" e onde você vê limusine o tempo todo na rua.

 - Os russos são amáveis, gentis, confiáveis e prestativos. Bom, isso depois de quebrado o gelo (na verdade, um iceberg) inicial, porque o primeiro contato é sempre muito difícil. É aposta certa que se você abordar um russo, em qualquer situação, vai enfrentar cara amarrada e má-vontade. Mas tendo jogo de cintura e, lógico, lançando mão de umas duas ou três palavrinhas introdutórias em russo, a coisa vai bem. E se o cara se sentir confortável e gostar de você, pronto: ganhou um amigo pra vida toda.


 - Eu falei da beleza do metrô de Moscou, mas não falei da eficiência. Dizem que há mais pessoas usando o metrô em Moscou por dia do que em Londres e Nova York - juntas (!). É bem capaz de ser verdade, a julgar pelo movimento insano nas horas de rush. Mas a coisa funciona que é uma beleza: a freqüência dos trens (eles vêm a cada minuto) e a velocidade (eles vão no maior cacete) seguram as pontas numa boa. E pra se ter uma idéia da profundidade das estações, demora-se em média quatro minutos só na escada rolante (eu cronometrei…rs).

 - Além disso, a cidade é cheia de passagens subterrâneas. Algumas lúgubres, outras que mais parecem um shopping center. Em muitas avenidas de grande circulação, simplesmente não há por onde atravessar pela superfície. E ai de você se tentar…

 - … porque tem policiamento em tudo quanto é lugar. Aliás, tem lugar em que tem mais policial do que gente (pronto, acabei de dizer que policial não é gente, hehehe). Por alto, você tem a impressão que pelo menos uns 20% dos russos tém algum tipo de autoridade (policial, guarda de trânsito, militar, marinheiro, etc), tal a quantidade de gente uniformizada que existe nas ruas.

 - Todo banheiro público cobra pelo uso. Normalmente eles são podres (ai que saudade do Japão!) e caros - mais ou menos o equivalente a R$ 1,50. Bom, até aí tudo bem, mas os caras tem a manha de cobrar até por banheiro químico! Vê se pode…

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