Acordei, olhei pela janela e tomei um susto: havia nevado bastante durante a noite. As ruas estavam todas branquinhas! Até o povo aqui está surpreso, afinal estamos quase em maio, bem longe do inverno. Bom, não posso reclamar - afinal trata-se de uma bela duma bela paisagem tipicamente russa. Apesar de aparentar uns vinte graus negativos, a temperatura lá fora estava bastante suportável - devia estar "só" um par de graus abaixo de zero.
Fiz amizade com três holandeses que estão no hostel e fiquei ainda mais feliz quando soube que um deles falava russo fluentemente - o maluco está estudando ciências florestais, ou algo do gênero, em um lugar remoto das redondezas, e os outros dois vieram visitá-lo. Decidi me juntar ao grupo para rodarmos a cidade e descobrir os seus parcos atrativos turísticos. Respirei aliviado por ter alguma companhia - o cenário meio desolador seria uma primeira impressão bem pior se eu estivesse sozinho. Além do mais, aqui é mil vezes mais complicado que o Japão em termos de comunicação: ninguém, absolutamente ninguém, fala inglês e todas as informações estão escritas em cirílico - cujos caracteres já estou quase dominando, mas entender o que as palavras significam são outros quinhentos.
No caminho descobri que os três são ornitólogos (!) e a primeira parada foi um breve "birdwatching" que, vá lá, tava, digamos, incluído no "pacote" de acompanhar os caras**. Após terem avistado algumas gaivotas - raríssimas, disseram, mas para mim eram somente gaivotas, hehehe -, pegamos o busão detonado em direção ao centro. A parte mais legal (e bota legal nisso!) do rolê foi ter entrado em um submarino soviético da II Guerra Mundial, o S-56, cuja maior façanha foi ter afundado simplesmente dez navios nazistas. Vladivostok é uma cidade com forte histórico naval militar - tendo inclusive estado fechada a estrangeiros por uns sessenta anos em função de sua importância estratégica - e você pode encontrar diversos navios da Marinha russa dando bobeira no porto.
Abre parêntese. Uma coisa a notar é que os carros aqui são todos japoneses - Toyota, Honda, Suzuki, Mazda e Daihatsu devem responder por no mínimo 95% da frota - e importados de segunda mão. Ou seja, o volante fica é no lado direito, mas o tráfego segue o padrão ocidental. Uma zona, portanto. E nada de Lada (sorry pela rima). Fecha parêntese.
Os holandeses falaram tão mal dos restaurantes russos - "horrible", "disgusting" e "grosse" foram os termos mais leves - que fiquei com a expectativa lááá embaixo. Mas procurei no meu guia (aquele mesmo, que comprei no aeroporto de Sydney no primeiro dia!) e acabei achando uma ótima opção. O lugar era tipo buffet, em que a comida fica à vista e torna a escolha mais fácil. Pedi lingüiça, batata e chucrute, acompanhado de salada de beterraba. Apesar de não soar nem um pouco apetitoso, estava realmente bom. Incluindo uma torta de frutas vermelhas, não paguei mais do que oito dólares! That means, já tenho onde almoçar amanhã. :)
Não mais que de repente, o sol apareceu e derreteu rapidinho a neve, que foi substituída por aguaceiro e lamaçal. Mas o dia ficou bem bonito, tornando toda a experiência mais agradável. Despedi-me dos holandeses, que iam tomar um trem para outra cidade, e caminhei por conta mais umas três horas, já me achando o dono da cidade. Minhas roupas passaram com louvor no teste, pois agüentaram firme a friaca - apesar de eu estar vestindo praticamente tudo o que estava na minha mala, hehehe!
Chegando ao hostel, fiquei o tempão batendo papo com o Andrej, um dos caras que trabalha aqui (e que sabia tudo sobre futebol brasileiro!) e acompanhando ele e a namorada fazerem os ovos de Pascoa para amanhã. Atenção, não são ovos de chocolate - são ovos de verdade, que, após cozidos, recebem uma pintura colorida (ou um tipo de adesivo com motivos cristãos) e são servidos com um pão doce que lembra muito o nosso panetone. Foi tão divertido que, no fim, já nem lembrava mais do inóspito início do dia.
Amanhã, finalmente, embarco no Trans-Siberiano. Quem quiser mandar boas vibes, receberei-as com gosto. :) Acho que estou preparado para uma das coisas mais bizarras que já fiz na vida, hehehe! Novas notícias, somente daqui a uns cinco dias - na melhor das hipóteses. Vou sentir falta de escrever, quem diria...
** Curiosamente, foi a terceira vez em que lembrei de algum episódio do Pica-Pau nessa tour; as outras duas foram quando pulei do Bungy (o povo assistindo ao lado da ponte parecia aqueles caras de capa amarela acompanhando a descida de barril nas Cataratas do Niágara) e quando assisti ao Barbeiro de Sevilha na Ópera de Sydney (essa nem precisa explicar…).
Oi Beto, há quanto tempo! Cara, descobri dem querer (entrou pouco no FB) que vc tinha o blog e adorei! Que viagem doida é essa?! Bom, já que vc pediu, boas vives da Cilu para sus viagem no Trans. Conte com detalhes como foi. Bjs.
ResponderExcluirSuper good vibes nessa viagem! como ja falei anteriormente, the best is yet to come. tudo vai dar super certo dorogoy!
ResponderExcluirManda ver na vodka e доброго пути!
ResponderExcluirOi Cilu, que legal que vc escreveu! Eh uma viagem doida mesmo... Vou postar algo daqui a pouco sobre o trem. E como estao as coisas contigo? Saudades, bjs
ResponderExcluirSilvia, Same - valeeeeeu!